segunda-feira, janeiro 28, 2013

Nightshift




O dia começa a clarear, e eu estou na varanda com a taça que tirei do frigorífico. Não há muito para ver, mas fico ali. Mesmo depois da gelatina acabar e com os pensamentos dispersos, o meu corpo agarra-se aquele momento, tão vazio de acontecimentos. Livre de rotinas, problemas, decisões. A “gente vazia” de Brian Keaney aguarda-me na cabeceira, mas hoje não estou para aí virado. Hoje quero menos, hoje não quero nada... nem mesmo literatura “low cost”. Sorrio com os disparates que me ocorrem a esta hora. Como se não me ocorressem a outra qualquer... Não tenho sono, mas sei que preciso de dormir, ainda estou no inicio das noites... “I’m in the night turn!” Solto uma gargalhada, que ninguém ouve, e fico a pensar que estou a roçar o limiar da loucura. Mas não é assim tão mau, quando me lembro que  não resisto a fazer uma tirada “à Lauro Dérmio” desde o tempo em que ainda não tinha barba branca. Depois disto, só espero não voltar a sonhar com o Nuno Markl. Desisto do meu singular momento zen, sem saber ao certo quanto tempo passou, e acabo na cama, a “desejar o que não tive, agarrado ao que não tenho”. E com a cabeça num turbilhão, “longa se torna a espera”, enlouquecer ou adormecer... o que vier primeiro.